Monday, April 12, 2010

Terra Cognita

Foi durante uma de minhas melhores férias, tinha uns 18 anos. Conheci aquele lugar aos poucos. Primeiramente me pareceu de uma vastidão inatingível, mas aos poucos, a cada tempo livre que tinha, me mandava para lá e cada vez mais desvendava com suas paisagens, suas montanhas, seu ar frio e perfumado, suas flores e florestas. Após alguns anos, tornei-me um habitue. Comecei a interagir mais com seus habitantes e até me tornar intimo de alguns deles. Fiz amizades para toda a vida e, é bem verdade, conheci certos camaradas que não pretendo encontrar tão cedo, mas mesmo deles sinto uma certa saudade. Aprendi atalhos, desbravei caminhos e me perdi (e como!), mas invariavelmente me achei (e como!). Lembrar de lá também me traz com carinho a memória de minha tia Antonieta que me levou pela primeira vez. O tempo foi passando, conheci outros lugares, mais desafiadores para um adolescente ávido por aventuras, fui perdendo um pouco o contato com o pessoal de lá, indo cada vez menos e depois de um tempo perdi o interesse, mas confesso: cada pedaço daquela terra continuou irremediavelmente em meu coração, não só por sua estonteante beleza, mas por considerar um território um pouco meu.

Outro dia, fiquei sabendo de que um grupo multinacional tomou posse de toda aquela terra e foi construído por ali, um complexo turístico gigantesco. No prospecto diziam que iriam manter todas as características originais de sua peculiar natureza e não iriam prejudicar a população local, o que achei deveras impossível.
Mas tomei coragem e fui! Após pelo menos oito anos ausente.

Estava tudo em uma aparente (e artificial) ordem, reconheci a maioria de meus amigos e fiquei muito feliz em saber que todos ainda estão bem, mesmo os mais velhos, que ainda esbanjam vitalidade. As paisagens continuam magníficas, mesmo que certas coisas tivessem de ser alteradas para que o tal empreendimento pudesse tornar-se factível. E se, por um lado, fiquei extremamente feliz em ver que, mesmo nas mãos de empresários, ainda pude entrar (mediante uma taxa, é claro) e aproveitar um pouco da paz que tanto desfrutei na juventude, por outro, o fato de tal destino ter se tornado tão popular me tirou seu encantamento.

O lugar agora é popular; existem lojas, merchandising e excursões. Não sei, talvez eu, um pouco mais velho, é que tenha mudado, ficado mais cri cri, mas, sinceramente, ainda sinto saudades de tudo como era, exatamente como era!

Mas sabe de uma coisa? A literatura é magnífica e ao reler “O Senhor dos Anéis” pude realizar esse sonho: voltar a Terra Média de minha imaginação, intocada, com todas as esperanças, medos. Pude encontrar novamente meus amigos exatamente do jeito que eram . Pude esquecer Hollywood, e seus bilhões e simplesmente me juntar a Merry, Pippin, Frodo e Bilbo calma e sossegadamente, durante dias e não horas e apreciar a minha Terra Média!

É uma pena que não isso possa acontecer com Itaúnas, no norte do Espírito Santo, onde li pela primeira vez “O Hobbit” e em que, apesar de ainda possuir a beleza das dunas, a calma do bar “Beira Rio” e o romantismo dos burricos levando gelo para a praia para abastecer as barracas, hoje não encanta mais ninguém! Já que era para ser assim que deixassem Peter Jackson fazer o serviço!

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