Monday, April 12, 2010

Seu Genor e o Ribeirinha (uma ficção pra variar)

Procurava a Cachoeira do Ribeirinha, perto de Brejo alto, uns 15 quilômetros antes de Sao Joati do Piratininga na direção de Torrão. Havia dirigido a tarde toda atrás da maldita cachoeira. No caminho passei por umas dez cachoeiras. Mas a Cachoeira do Ribeirinha era especial, pelo menos era o que me diziam: A cachoeira do ribeirinha, perto de Brejo alto, uns 15 quilômetros antes de Sao Joati do Piratininga na direção de Torrão. E era para lá onde eu estava indo. Cachoeira do Ribeirinha.
O sol já não estava tão quente, já duvidava de minha coragem em cair na água gelada, estava com fome, resolvi dar uma ultima chance a minha idéia obsessiva de encontrar a cachoeira do Ribeirinha. Encostei o carro junto a uma casinha de pau-a-pique ao lado da estrada de terra vermelha, a casa era exatamente do mesmo vermelho da estrada, não o mesmo tom de vermelho, o mesmo vermelho mesmo.
Um garotinho dobrava um papel manteiga, atrapalhado com duas varetas cruzadas entre seus dentes. Ao lado, uma pequena tesoura, um tubinho surrado de cola e um livro aberto. O moleque lutava com as dobras não muito precisas no papel vermelho enquanto cortava outro pedaço de saco plástico para a rabiola. Não se saia muito bem, para falar a verdade. Fiquei lá observando por um instante tal cena. Queria intervir de algum modo, ajuda-lo mas ele se atrapalhava cada vez mais. Deu outra breve olhada numa das paginas no livro ao seu lado como se seguisse um manual pratico de manufatura de pipas, olhou de novo desolado para a sua obra inacabada, já sem muitas esperanças em concluí-la satisfatoriamente, deu um sorrisinho envergonhado olhando de soslaio para mim. Retribui o sorriso. Cheguei mais perto, examinei a pipa, não sou um especialista, mas realmente não parecia muito promissora. Ele voltou-se novamente para o livro, desta vez mais concentrado, tentando entender em que parte havia perdido o fio da meada. Voltou duas ou três paginas e pareceu ter compreendido, foliou três para frente novamente desta vez com os seguindo na diagonal das paginas, murmurando as instruções baixinho e apos alguns segundos, fechou o livro de sopetão como se este se recusasse a revelar qualquer informação útil. Enfim me dirigiu o olhar percebendo que eu era um forasteiro dirigindo um carro bacana. Pergunte-lhe da Cachoeira e ele apontou para a estrada
- A cachoeira esta dentro da fazenda do seu Genor, ele não deixa entrar não.
-Tem certeza?
-Tenho sim senhor, eu mais Uelito íamos lá atrás de cambuci mas seu Genor cercou o rio e disse pra nois não ir mais lá.
Fiquei realmente desapontado, e o garoto percebeu.
- Se o senhor quiser posso te levar na Cachoeira do Espinho, mas e mais longe.
- Não precisa, afinal você precisa terminar sua pipa!
O garoto olhou para aquela massaroca de papel amassado e deu uma risadinha.
- Não senhor, o difícil mesmo é o livro que seu Genor deu pra mim. Tem coisas que é ruim de entender.
Estiquei o olho curioso e ele meio envergonhado me mostrou: "Calculo Diferencial e Integral - Vol. 2". Fiquei completamente estupefado! Que diabos de sujeito masoquista, sem coração que fecha a cachoeira mais bonita da região e da um livro desses para um garoto! Peguei o livro da mão do menino imaginando que talvez o velho gibi estivesse encadernado no livro do Paulo Boulos, mas não! Estava tudo lá!
- Esse livro não e pra você não garoto, concatenando minhas chances de receber um tiro nos cornos se fosse tirar satisfações com tal seu Genor.
- E, respondeu o garoto, esse e o volume dois e não tem jeito de eu entender como derivar as funções do numerador e do denominador para calcular um novo limite para duas função.
Não entendi absolutamente nada, não sabia o que dizer:
- Mas e a pipa? Foi a única coisa que veio a minha mente
- Ah, ele riu, é bão pra manter as mão ocupada enquanto eu penso, Seu Genor que falou!

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