Monday, April 12, 2010

Pobre Também Avúa


Quando se sai dos domínios do mundo civilizado, Ir de um lugar para outro, por mais próximos que sejam, pode se tornar um grande desafio. Eu me lembro de algumas histórias, como o pesadelo que se tomou a viagem de Chang Mae (no norte da Tailândia) até Bangkok - Vinte e oito horas no vagão da terceira classe, onde a densidade demográfica era a maior possível prevista pela física da matéria condensada.
Ou outra vez, em que viajei de Belém a Manaus em uma rede pendurada na proa de um barco abarrotado de pastores protestantes. Lembro que cheguei duas horas antes do embarque com um amigo e minha rede pronto para singrar as águas do Amazonas. O barco já estava tão cheio que as redes eram dispostas em três andares: O térreo (com o traseiro encostado no chão), intermediário e superior (cara no teto)! Obviamente não havia mais lugares, quando meu amigo achou, lá na frente, um lugarzinho ótimo, com uma vista fantástica para os dois lados (bombordo e boreste, para aqueles que apreciam o jargão náutico). Embora achando um pouco estranho não haver ninguém ainda, armamos nossas redes acompanhados por sorrisinhos irônicos dos caboclos "vizinhos". Já pronto para zarpar, lendo um livro e confortavelmente instalado, notei uma coisa estranha: apenas nossas redes estavam dispostas transversalmente ao eixo do barco! Pois é, foi só começarmos a navegar que e descobrimos. Balançávamos tanto, que chegávamos a transpor uns dois palmos a lateral do barco (olhávamos para baixo e víamos o rio). Como se isso não bastasse, a cada batida que o barco dava na água, após passar por qualquer ondinha, tomávamos um banho, e o pior; havia uma caixa de som imediatamente acima de minha cabeça, e todos os dias ás 6 da manha, o Capitão colocava, no último volume a única fita a bordo: Roberto Carlos... Sete longos dias.
Por isso que eu digo: viajar de avião é um verdadeiro luxo para nós, os "duristas", tão acostumados a passar por essas verdadeiras provações. Rápido, seguro, refeições a bordo! Também sei de algumas histórias nada agradáveis envolvendo aviões, principalmente quando se trata de empresas regionais ou aquelas, cuja simples referencia ao nome já causa um frio na espinha, como a Royal Nepal Arlines, Kazakistan Air ou a campeã; a PIA (Pakistan International Airways. ou: Por favor, Informem Alá - por falar nisso, minha avó conta que nos anos sessenta havia uma companhia aérea na Amazônia chamada PTA, abreviatura de "Pará Transportes Aéreos"...carinhosamente tratada como "Pobre Também Avúa"). Mas mesmo nestas empresas de menor prestigio, o ato de voar pode se tornar uma grande experiência.
Uma vez, viajava pelo Chile com mais quatro amigos, e teríamos de pegar um vôo de Puerto Montt para Punta Arenas, no extremo sul do continente. Fomos alertados a evitar a Ladeco pois tal empresa, segundo alguns amigos, não primava pela segurança e estava em vias de falência. Após procurarmos sem sucesso, vôos com companhias maiores, descobrimos uma ótima tarifa pela tal Ladeco, nos entreolharmos por um momento e decidimos ir; se tem de ser, será.Embarcamos no Boeing 737 novo em folha e depois da bem sucedida decolagem, nos surpreendemos pela ótima qualidade do serviço de bordo e descontração da tripulação.

Após uma hora de vôo descobri, para minha surpresa, que toda a safra de Concha y Toro 1994 estava sob minha poltrona (sentamos na ultima fileira do avião). Nos esbaldamos de tomar vinho, e já meio alto (desculpem o trocadilho), passei a resto do vôo conversando animadamente com uma bela aeromoça, a Lorena, que até me convidou para passar uns dias em sua casa em Viña del Mar. Definitivamente foi um vôo e tanto. Hoje, infelizmente a Ladeco não existe mais, faliu. Provavelmente por excesso de "reagalos" a seus passageiros e nunca mais vi a Lorena. Uma pena.

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